Qual é o tamanho do setor de base florestal no estado do Rio Grande do Sul?
O setor florestal no Rio Grande do Sul remonta de algumas décadas. Ele sempre teve uma expressão muito importante. Ainda na década de 1960, com os primeiros plantios do gênero pinus, alinhados com aqueles grandes projetos de reflorestamento por conta dos incentivos fiscais.
De lá para cá, a indústria só cresceu. Hoje, o Rio Grande do Sul tem aproximadamente 1 milhão de hectares plantados, com três gêneros: o eucalipto, que responde por aproximadamente 60%; a acácia, com cerca de 50 mil hectares plantados; e o restante são plantios de pinus, que gira em torno de 300 mil hectares. Neste gênero, o Rio Grande do Sul é o terceiro estado com maior área plantada, atrás de Paraná e Santa Catarina. Já no gênero eucalipto, acredito que o RS represente algo em torno de 10% do total do Brasil.
Quais são os segmentos industriais que mais utilizam madeira de florestas plantadas no RS?
A cultura do eucalipto é muito dedicada à indústria de papel e celulose. Nós temos uma indústria muito importante aqui no estado, localizada em Guaíba. Nós também temos eucalipto que é destinado para a construção civil, para pallets e para embalagens de madeira.
Já com acácia, temos indústrias que são dedicadas à produção de extratos vegetais, exportação de cavaco e fabricação de pellets.
Para a cultura de pinus, temos indústrias importantes sediadas no estado dedicadas à produção de chapas de MDF e MDP. Temos indústrias laminadoras e, em outra frente, extremamente importante e grande geradora de empregos, a indústria de serrados para as mais diversas finalidades. Esta, dedicada tanto para o mercado interno quanto para o mercado externo.
Falando em mercado externo, o setor florestal do Rio Grande do Sul gera divisas muito importantes. Tanto na exportação de papel e celulose, quanto dos mais variados produtos de madeira serrada de pinus, além de pellets. Para este segmento temos agora uma nova indústria instalada aqui no estado, que tem nas árvores plantadas a principal fonte de matéria-prima.
Como as indústrias de fora do Rio Grande do Sul enxergam o estado para a possiblidade de novos investimentos?
A partir de 2008 nós passamos por algumas modificações no que diz respeito ao plantio de árvores para fins industriais, com instituição do Zoneamento Ambiental para a Atividade da Silvicultura (ZAS). Agora, este mecanismo está sendo revisitado e modernizado, o que deve fazer com que o setor de florestas plantadas tenha um crescimento dentro do estado. Por isso estamos passando por um momento bem interessante. Já tivemos uma primeira aprovação no que tange a recursos hídricos. Neste segundo momento estão sendo tratadas questões sobre tamanho e distanciamento de maciços florestais.
Com esta reforma pela qual o ZAS está passando e com a disponibilidade florestal do Rio Grande do Sul, temos conseguido, ao longo dos últimos anos, atrair indústrias para migrarem para o estado. Outras, estão aumentando suas bases de negócios, que eram somente em outros estados e agora estão vindo também para o Rio Grande do Sul.
Como estão distribuídos geograficamente os plantios florestais no estado?
O pinus, por exemplo, está em várias regiões. O nordeste do Rio Grande do Sul tem um maciço bastante importante, na casa de 200 mil hectares. Aí tem a Serra do Sudeste e a Depressão Central, que engloba os municípios de Encruzilhada do Sul e Piratini. Tem a parte do litoral também, que é importante para a cultura do pinus. Então depende muito de qual é a visão do empreendedor, do industrial que deseja mudar para cá, ou mesmo do empreendedor florestal que deseja plantar. É possível identificar regionalmente os plantios e avaliar o que faz mais sentido para cada negócio.
Os últimos anos têm sido bastante interessantes nessa migração industrial. A gente tem conseguido ser bem-sucedido em trazer e incentivar a indústria de outros estados para investir aqui, justamente por ter, ao longo dos anos, disponibilizado um maciço florestal interessante e essa disponibilidade florestal acabou atraindo estas indústrias. Então, neste momento, estamos otimistas com as possibilidades de aumento de plantios no estado do Rio Grande do Sul.
Mas existem áreas disponíveis para esta expansão? Porque o investidor irá optar pela silvicultura e não por outras culturas de ciclo mais curto, por exemplo?
Na questão da disponibilidade de terras, a maior concorrência do setor florestal não é conosco mesmo, mas sim com as demais culturas. A agricultura está sempre em crescimento no Rio Grande do Sul, que é um estado importante para este setor. O noroeste do estado, por exemplo, hoje é tomado pela agricultura.
O que eu vejo de positivo, é que a árvore valendo mais, e ela vem se valorizando nos últimos anos, vai acabar dando condições para este convencimento. O proprietário de terras, desde o pequeno produtor, até as áreas mais extensivas, vão entender que plantar árvores é um negócio importante e que tem um retorno interessante, mesmo que a liquidez não seja tão rápida.
Existe um outro negócio acontecendo, talvez pela valorização que houve do ativo árvore, que foi a criação de mecanismos de liquidez. Um pouco diferente do que acontece na agricultura tradicional, hoje o investidor não precisa necessariamente esperar um corte raso para ver toda a rentabilidade do investimento. Já no meio do ciclo é possível comercializar as árvores em pé, com alguém que tenha interesse em ser o detentor daquelas áreas. Um sai do negócio abrindo espaço para outro entrar.
Então, a questão da liquidez é relativa. Com a importância que os plantios florestais ganharam nos últimos anos, com a relevância e valor que eles têm, abriu-se esta avenida de possibilidades para o retorno do investimento antes mesmo do corte raso, da colheita.
Então, investir em florestas é um bom negócio?
Em primeiro lugar é só observar o valor desse ativo ao longo dos anos. Hoje, a árvore tem um valor muito maior do que tinha há 10 anos. E maior ainda do que ela tinha há 20 anos. Então, os ativos florestais foram se mostrando resilientes nos momentos de crise e muito promissores nos momentos de bonança.
Com o advento da pandemia, infelizmente por causa de um problema, houve correções importantes dentro do setor florestal, posicionando a árvore plantada como um negócio bastante interessante. Mexeu na relação de oferta e demanda. Houve um grande crescimento da indústria que consome matéria-prima florestal. Hoje é mais forte a demanda do que a oferta, o que provoca naturalmente valorização dos ativos florestais.
Surgiram grandes projetos industriais, tanto na Região Sul do país, como em Mato Grosso do Sul, mas a contrapartida florestal não está na mesma velocidade. Isso mostra que esse ativo só tende a valorizar. Para dar conta de toda essa indústria, que já está formada, eu diria aos investidores: “Procurem terras porque plantar árvores vai dar um retorno muito bom.” Há muito espaço para o crescimento florestal, para dar conta da demanda que vem pela frente em função dos grandes projetos industriais.
E de que maneira o ZAS vai contribuir para ampliar as áreas florestais no RS?
O novo ZAS está baseado em conceitos modernos. É isso que estamos mostrando para a sociedade de forma geral. Ele leva em conta novas métricas, que antes não eram consideraras. Por exemplo, acabamos de avançar na questão dos recursos hídricos. Isto está superado. Agora, com a questão da conectividade e permeabilidade, a ideia é mostrar que áreas que antes eram limitadas, na verdade podem ser expandidas, sem causar impactos na fauna e flora. São conceitos novos. Um novo olhar para a natureza. Por conta da reforma e da modernização do ZAS, a tendência é que a área disponível para plantios florestais no Rio Grande do Sul irá expandir consideravelmente.
Quais as instituições envolvidas no processo de modernização do ZAS?
Trata-se de um processo muito amplo. O trâmite envolve toda a sociedade. Acontece dentro de órgãos estaduais e envolve diversas instituições como: Assembleia Legislativa, Ministério Público, federações, ONGs, a Fundação Estadual de Proteção Ambiental (que é o órgão que coordena toda a questão ambiental dentro do estado); envolve a Secretaria do Meio Ambiente, Conselho Estadual do Meio Ambiente. Tudo acontece com muito diálogo há mais de três anos, com grupos de trabalho formados em meio às ideias que surgem e debates importantes e calorosos, às vezes. Afinal de contas, as pessoas têm contrapontos, o que é natural e é assim que se constrói o futuro.
A logística de transporte pode ser uma vantagem para o negócio florestal do Rio Grande do Sul?
Infraestrutura, de um modo geral no Brasil, é um gargalo. Não vejo nenhuma desvantagem, tampouco uma grande vantagem no Rio Grande do Sul em relação aos outros estados da federação. Mas há, obviamente, a preocupação constante em oferecer o mínimo de condições possíveis para que os produtos possam transitar e chegar aos destinos.
Com relação a portos, tivemos a duplicação da BR-116, que liga a capital Porto Alegre ao Porto de Rio Grande. Faltam pequenos trechos para serem finalizados, mas ela está próxima de sua conclusão. Parte do escoamento florestal do Rio do Sul se dá pelo Porto de Rio Grande. Já na parte norte, esta logística utiliza os portos de Santa Catarina.
Tivemos avanço na construção da BR-285, que passa pelo noroeste gaúcho e atende também a região nordeste do estado, onde existe um maciço florestal importante. Esta rodovia se conecta com a BR-101, que por sua vez tem uma ligação direta com os principais portos de Santa Catarina.