O Encontro Brasileiro de Segurança Florestal. primeiro evento nacional sobre o tema, organizado pela Malinovski, tem como objetivos principais, a preservação da vida em um ambiente seguro e discutir o que se tem feito hoje nas empresas florestais para melhorar a segurança em todas as operações. Os mais de 200 participantes, assistiram palestrantes experientes abordarem temas relevantes relacionados às operações florestais.
Dividido em quatro blocos, o Encontro começou passando para os profissionais, a importância de se transformar a segurança em valor. A primeira palestra foi ministrada pelo engenheiro Bruno C. Bilbao Adad, consultor do Senai. Com o tema “O Paradigma da Consciência de Segurança”, Bruno destacou que a prevenção de acidentes deve estar presente a cada momento do dia a dia. “É muito difícil criar o hábito da prevenção, mas é muito fácil destruí-lo”.
Para ele, o ponto de partida é a quebra de paradigmas. “Precisamos descontruir a ideia de que os acidentes são imprevisíveis. Sabemos que não existem fatalidades, o que existe são ações, alguém fez o que não deveria ou deixou de fazer”, destacou. Ele afirma que os acidentes ocorrem devido a uma interação de vários fatores que estão presentes no ambiente ou situação de trabalho muito antes do seu desencadeamento. Sendo, portanto, eventos previsíveis e preveníveis. “Temos sempre a possibilidade de mudar e fazer tudo de forma mais segura. Prevenir é sempre o melhor caminho.”
Luciano Nadolny, analista técnico na gerência de qualidade de vida do SESI-PR, destacou a importância de falar sobre segurança, ainda mais no setor florestal, que tem se tornado cada vez mais importante para a economia nacional. Luciano abordou a psicologia, fisiologia e a propensão a acidentes. Ele salientou que a segurança no trabalho deve ser aprendida, porque para que ela seja desempenhada nas atividades diárias é preciso saber fazer. “Outros dois fatores também devem ser seguidos para que o trabalho seja seguro: o poder fazer, é preciso que a empresa ofereça condições de trabalho seguras; e os fatores motivacionais, ou seja, a vontade de agir de forma segura”, acrescentou.
“Recrutamento e Seleção, Segurança e Produtividade nas Atividades Florestais” foi o tema da palestra de Luciano Santos, psicólogo, administrador de empresas e colaborador da Malinovski. Ele destacou a importância de selecionar corretamente os funcionários. “É preciso escolher o perfil certo para a necessidade da vaga”, afirmou. Desta forma, para ele, existem ganhos como diminuição de curva de aprendizagem, de desligamentos por desmotivação e de índice de quebras de equipamentos, além da melhora do clima organizacional.
O FSC e as NRs foram o tema da palestra de Rodrigo Meister de Almeida, coordenador técnico de negócios do SESI-PR, e Fernanda Rodrigues, coordenadora técnica do FSC (Forest Stewardship Council) Brasil. Rodrigo destacou que os objetivos das NRs são garantir a segurança e saúde do trabalhador, mas acredita que elas são muito rígidas e não adaptadas à realidade brasileira. “A norma precisa trazer objetivo e os fatores que serão avaliados. Precisamos pensar mais na realidade de vida do trabalhador para proporcionar a saúde e a segurança da forma certa”, avaliou.
Finalizando as palestras da manhã, o doutor alemão, Leif Nutto, fez uma comparação da segurança nas operações florestais no Brasil e na Europa. Ele contou que no continente, existe uma preocupação com a sanidade psicológica dos trabalhadores, no sentido de não serem submetidos à trabalhos muito monótonos ou repetitivos para que haja a satisfação profissional.
Para Leif, o Brasil é teórico, o que falta é a implementação prática, como treinamentos mais elaborados e bem trabalhados e capacitação mais contextualizada. “Com 8 horas de treinamento nem um fazendeiro se torna capacitado para operar uma motosserra em sua propriedade. O sistema de educação pública influencia diretamente a capacidade de cognição e discernimento do trabalhador”, acredita.
No período da tarde, Paulo Salamuni, gerente operacional da Klabin foi o moderador do bloco dois – Segurança, Produtividade e Custos em Operações Florestais. Ele destacou o desenvolvimento do setor florestal e como o conceito de segurança tem evoluído e se concretizado, se tornando uma realidade aplicada.
Iniciando os trabalhos, Murilo Galvão Teixeira, instrutor do SENAR-PR, abordou a aplicação de agrotóxicos. Ele explicou que a intoxicação por agrotóxicos tem aumentando, mas não é possível estimar um real valor por falta de meios de controle. Para ele, a falta de eficiência dos químicos faz com que uma quantidade maior que a necessária seja aplicada, tornando assim a exposição do aplicador maior. Ele afirmou que os operadores que estão em contato diretor com os agrotóxicos precisam fazer um curso específico para saber a forma certa de lidar com os produtos.
Bruno Ricardo Fernandes, coordenador de colheita florestal da Cenibra, destacou as técnicas de segurança durante o processo de colheita. Ele apresentou um case da empresa e ressaltou a importância do microplanejamento e da sinalização operacional de campo. “Temos o costume de fazer sinalizações orientativas que auxiliam os operadores na percepção de riscos. Quando a marca é vista o operador sabe que precisa descer ancorado”, exemplificou.
O planejamento operacional e o microplanejamento foi o tema tratado na palestra do supervisor de colheita e transporte florestal da International Papel, Renato Melman. Ele contou que a IP tem mais de 70 mil funcionários e “trabalhar com um número tão grande de pessoas e não pensar em segurança é inviável”. Segundo ele, a segurança já é vista como um valor na IP. “Focamos no acidente zero e esse resultado depende de programas sólidos, metodologia, microplanejamento operacional e liderança”, destacou. Para ele, o microplanejamento não é uma receita igual para todos, mas algo que deve ser customizado e varia de acordo com cada situação. Ele salientou que sempre que acontece um acidente é preciso fazer uma avaliação do ocorrido, estudar e acrescentar os resultados no microplanejamento, para que medidas sejam tomadas e a mesma situação não ocorra novamente.
O custo da segurança para as empresas florestais foi assunto da apresentação de Manoel Francisco Moreira, sócio-gerente da ARS SILVAE Assessoria Florestal. Ele ressaltou que não existe segurança sem custo e apresentou casos em que as normas de segurança só serviram para onerar a empresa e acabaram prejudicando as atividades pela dificuldade que elas apresentaram. Para Chico Moreira, como é conhecido, é preciso pensar não somente na segurança do trabalhador, mas no conforto dele também. Isso porque não adianta ter várias normas de segurança se o operador não ficar confortável em segui-las, o que, consequentemente, faz com que ele burle essas normas.
Para finalizar o primeiro dia do Encontro Brasileiro de Segurança Florestal, Luiz Geraldo Groessler, gerente de logística florestal da Fibria falou sobre segurança e produtividade no transporte de madeira. Ele contou que a empresa criou o Manual Estrada Segura, o qual usa como referência para todas as operações relacionadas a estradas. “Dessa forma, deixamos claro para todos os nossos parceiros o que nós fazemos e esperamos em relação a segurança”, explica. Neste manual, alguns passos são seguidos para que os acidentes sejam evitados. Entre eles, estão o planejamento, controles operacionais e de comportamento.
Abrindo o segundo dia, Alison D’Andréa e Douglas Santos, da New Holland trataram do tema: “Parâmetros Construtivos na Adaptação de Tratores e Implementos para Operações Silviculturais”. Eles afirmaram que as operações realizadas manualmente oferecem alto risco à integridade física do trabalhador e que a substituição das operações manuais pelas mecanizadas diminui consideravelmente o riso de acidentes.
Manoel Carvalho, professor titular da FABET (Fundação Adolpho Bósio de Educação no Transporte), abordou a formação de condutores no transporte de madeira. Para ele, a capacitação dos motoristas resulta em responsabilidade profissional, mais postura, domínio do veículo em momentos adversos, conhecimento e aplicação das tecnologias disponíveis, ganho de eficiência e produtividade, entre outros.
A palestra de Nínive Maia, engenheira florestal da Veracel teve como tema a NR12 e as implicações florestais. Ela destacou que o operador deve trabalhar dentro das normas de segurança não porque a legislação exige, mas porque existem pessoas na vida dele que se importam com sua saúde. “Trabalho seguindo as normas de segurança pelo meu filho de dois anos. Preciso trabalhar com segurança por mim e pela minha família, não porque a empresa manda”, constata.
Emilio Paulo Fontanello, engenheiro mecânico da Scania, falou sobre a segurança no desenvolvimento de veículos automotores. Ele demonstrou que é possível observar detalhes de segurança antes mesmo do motorista entrar na cabine. “São pequenos itens, como o degrau escamoteável auxiliar; a trava de grade frontal; alças laterais de cima até em baixo, que auxiliam no embarque seguro; entre outros, que quase ninguém percebe o trabalho que os engenheiros tiveram para proporcionar segurança ao motorista.”
Finalizando o bloco 3, Douglas Lazaretti Siebert e José Teófilo Júnior, da Gerdau de Minas Gerais, abordaram em sua palestra o gerenciamento de riscos. “A sua gestão requer a avaliação do contexto em que estamos inseridos, ou seja, a realização de um diagnóstico de como estamos atendendo as expectativas de prevenção e controle de perdas”, afirmou Douglas. Para ele, dominando o cenário atual, é possível definir as metas futuras e o caminho para alcançá-las, priorizando as ações mais relevantes de cada etapa.
Para abrir as palestras do bloco 4 – Programas de Segurança – Cases das empresas Florestais, Adriano Thiele, diretor de Operações da JSL, falou sobre transporte seguro. Ele destacou as ações da empresa para garantir a segurança florestal: recrutamento e seleção, treinamento e capacitação, mapeamento de risco, controle de jornada, inspeções e blitz de segurança e controle de peso transportado são algumas delas.
Jorge Cavassin, coordenador de segurança e meio ambiente da MWV Rigesa, abordou em sua palestra a importância da disseminação do conceito de segurança do operador à presidência. Cavassin destacou a importância do exemplo e da boa liderança. “Não basta apenas transmitir ao funcionário as regras da empresa, é preciso dar o exemplo. Um bom líder é o exemplo dos funcionários.”
O case do programa de saúde e segurança da Vale foi apresentado por Luciano Assis, gerente de exploração mineral de ferrosos da empresa. “Nossa Política de Saúde e Segurança tem como valor: vida em primeiro lugar. E segue em dois aspectos: compromissos e princípios de atuação”, contou. De acordo com ele, valorizar a saúde e a segurança significa valorizar as pessoas, para isso passos, como analisar os riscos e cumprir medidas de prevenção, são seguidos.
Darlon Orlamünder, gerente de logística florestal da Klabin, discorreu sobre a segurança nas operações terceirizadas. Para ele, é importante trabalhar junto com os líderes dos segmentos. “Eles criam e mudam a cultura de uma empresa por meio de seus funcionários”, acredita. Ele também salientou que trabalhar com segurança é responsabilidade de cada um, mas os líderes tem responsabilidade em dobro, já que precisa cuidar de si e se certificar que os funcionários também estão trabalhando da forma correta.
Para encerrar o Encontro Brasileiro de Segurança Florestal, os serviços de manutenção foram abordados por Marcio Kirchmeyer Vieira, gerente geral de contratos de manutenção da Komatsu Forest. Conforme o profissional, os acidentes reduzem na mesma proporção da redução das manutenções corretivas. “Quando as máquinas tem a manutenção correta o risco de um acidente é consideravelmente menor”, finaliza.
O Encontro Brasileiro de Segurança Florestal reuniu na capital paranaense, 243 profissionais, que buscaram mais informação em relação a aspectos de segurança. A segunda edição do evento já está sendo programada e sua data será divulgada em breve.