Em entrevista exclusiva para a revista B. Forest, o CEO da Dexco, Antonio Joaquim de Oliveira, fala sobre sua trajetória no mercado, transição da marca Duratex para a nova identidade corporativa e ainda apresenta uma visão relevante do mercado de madeira e abastecimento de grandes projetos no brasil e no mundo.
1.Primeiramente, Antonio Joaquim, gostaria que você contasse para nós a sua trajetória.
Eu sou engenheiro florestal, formado na universidade de Viçosa, nos longínquos anos 1980, já estou aí há 35 anos, mais ou menos, no setor. Depois do meu mestrado iniciei o meu trabalho na então Duratex, hoje Dexco e eu fiquei por muitos anos na operação florestal, durante 15 anos como diretor e depois fui assumindo outras funções, como a vice-presidência do negócio de madeira e já há oito anos como CEO. Este é um breve relato, bastante tempo no setor, muitos cabelos brancos.
2.Recentemente houve a transição de marca de Duratex para Dexco. Como foi esse processo para a empresa?
Esse é um processo que vinha sendo pensado há muito tempo. Existem inúmeras razões para isso. Investimos em um trabalho de marketing alinhado com estratégia de marca. Tentando um resumo das razões, essencialmente, a Duratex é extremamente associada ao produto de madeira, então, como tínhamos um nome corporativo que era ao mesmo tempo corporativo e de marca de produto, isso nos causava alguns problemas. Por exemplo, poucos associavam as operações da Deca à Duratex. Todo mundo imaginava que Deca era uma empresa independente, quando na verdade era apenas uma marca de produtos. Pensando nesse exemplo e em outras situações, nós amadurecemos isso durante muito tempo. Foi um trabalho feito junto com a agência África, que é a maior agência de propaganda do Brasil, juntamente com a Interbrand, que é uma agência de marcas. Esse trabalho levou, dois ou três anos, até mesmo foi adiado pela pandemia e agora lançamos essa marca corporativa, até porque, hoje, o peso do negócio de painéis de madeira em si, dentro da organização, ele se diluiu na medida em que a gente entrou em novos negócios, como celulose solúvel, a própria Deca, e revestimentos cerâmicos com a Cecrisa Ceusa. Com esse portfólio de marcas, nos posicionamos como uma empresa de fornecimento de soluções para a construção civil de um modo geral. Esse momento é que nos motivou a trocar e a gente está muito satisfeito com o resultado.
3.Qual a representatividade do mercado florestal dentro do negócio da Dexco?
O setor de base florestal ainda é, de longe, o maior setor da companhia, responsável pelos maiores investimentos, maior número de ativos e a gente está meio que dobrando a aposta. Redirecionamos o negócio de madeira para não ficar só no setor de painéis, entramos no setor de celulose solúvel. Este projeto está previsto para março de 2022, em Minas Gerais, com uma planta excepcional, e consequentemente operação florestal grandiosa também. Dentro da Dexco, temos uma subdivisão que chamamos de negócio de madeira, uma vice-presidência que abrange celulose solúvel e painéis, contando ainda com as operações na Colômbia, que são de madeira e floresta. Mas não paramos por aí. Trabalhamos para criar opções futuras a partir das florestas. Estamos desenvolvendo um projeto florestal importante no nordeste do Brasil, somente florestal. Criando as condições para uma futura fábrica de painéis, ou uma futura linha de celulose solúvel, o quer que venha a ser… Esse projeto de longo prazo está numa fase de aceleração. Realmente vemos a floresta como uma base muito importante para esses negócios da companhia e não descartamos que possa haver outros negócios em cima da floresta, também.
4.Temos discutido muito sobre o mercado de madeira, abastecimento e as perspectivas do futuro. Como a Dexco vê esse cenário?
Está acontecendo agora uma coisa que eu previa há muito tempo. Existe um desabastecimento generalizado de madeira no mundo. Existe um desequilíbrio e consultorias importantes já apontam essa instabilidade na oferta de madeira na Ásia, na Europa, um pouco nos Estados Unidos, ainda existem florestas por lá, mas, de um modo geral, o balanço mundial de florestas plantadas é deficitário. O Brasil vive um momento muito crítico com relação a isso. Hoje, para grandes projetos florestais, a floresta vinda do mercado é quase uma não opção, porque realmente a disponibilidade é baixa, os preços estão proibitivos. A Dexco sempre baseou a sua estratégia em um abastecimento 100% autossuficiente. É isso que a gente busca, estamos perto de 95% de abastecimento próprio, mesmo considerando as expansões. Acreditamos que as empresas terão que desenvolver ciclos de investimento florestal muito fortes, a partir de agora. Você vê nos jornais, qualquer novo projeto que venha a surgir, seja em madeira, seja de serraria. qualquer novo projeto de médio para grande porte vai ter que se preocupar e desenvolver uma autossuficiência de abastecimento, ou então elevar substancialmente a participação de florestas próprias. Vejo que esse momento é importante para a engenharia florestal, para o desenvolvimento de projetos e vai requerer muita habilidade dos gestores de abastecimento, de suprimento, das negociações. Floresta é um item de longo prazo. Eu costumo dizer que, dos negócios envolvendo madeira, a questão não está nas fábricas, elas são artigo de prateleira, você projeta e compra uma fábrica. Ela sempre está disponível para aquisição, mas a floresta não. A disponibilidade de terras a preços competitivos tem se tornado escassa. É o grande desafio das novas fronteiras florestais. Portanto, precisa ser melhor manejada.
5.Quais as perspectivas do mercado de construção civil para os próximos anos?
Estamos muito otimistas com relação às perspectivas do mercado para os próximos anos, principalmente falando em 2022, 2023. A Dexco possui um plano estratégico de 5 anos, onde a perspectiva de crescimento é positiva. Existe um grande déficit habitacional no Brasil, mas além do déficit habitacional, há um outro que as pessoas não contam, que é o déficit de qualidade das habitações. Nesse cenário, existe um mercado imenso de reformas das casas, de melhorias, e com isso entram armários, entram os produtos que nós fornecemos. O mercado de reformas e construção representa 70% do nosso faturamento. Sem falar que existem inúmeros lançamentos habitacionais no Brasil que aproveitaram esse ciclo mais recente de juros baixos. O setor de construção civil teve um estímulo muito grande e por isso vai haver uma demanda muito forte desses produtos ainda nesses próximos anos. Com essa visão, expandimos todas as linhas, seja em Deca, revestimento cerâmico, madeira… Estamos trabalhando em expansão porque realmente acreditamos no potencial de mercado.